Arte e Angústia

Como o mercado de arte afeta a saúde mental do artista

Por: Carolina Herszenhut

Recentemente participei de uma conversa sobre o mercado da arte e saúde mental, no momento do convite o tema me causou um pouco de desconforto, mas algo que para mim pareciam dois temas um pouco distantes, se tornou algo urgente a se pensar.

Vivemos num mundo de imagens, imagens essas que precisam ser quase sempre bonitas, felizes com certeza, mas que todos (ou quase todos) sabemos que são mentiras, ou pelo menos meias verdades.

Nessa conversa falamos sobre a angústia do artista em ter uma carreira sustentável e me foi feita a pergunta de como isso poderia ser resolvido. Porém acredito que não existe uma resposta, pois segunda a psicanálise (desculpe aqui psicanalistas minha frase rasa) a angústia é algo que nos move, que nos faz rumar aos nossos desejos.

“A angústia é o afeto por excelência na clínica psicanalítica. De acordo com Freud, é a matriz de todos os afetos. Para Lacan, é o único afeto que não engana: é o sinal da divisão do sujeito entre o gozo e o desejo.” — wikipedia

Dessa forma ouso dizer que sem ela, como se daria a criação artística? Seria essa angústia que nos acomete todos os dias a propulsora de nossas realizações?

São perguntas que ficam e acredito podem ter muitas respostas, mas, e quando essa angústia vai além das que angústias existenciais (essas sim, acredito serem fonte inesgotável de criação e capazes das maiores obras) e passam a ser sobre nossa subexistência como individuo num mundo capitalista onde não podemos piscar sem ter um custo?

Seria essa angústia também capaz de nos fazer criar? Ou seria paralisante?

Acredito que cada um de nós vai lidar com isso de forma diferente, mas como esse tema atravessa o mercado de arte?

Como pode o artista encontrar uma forma de aplacar aquele sentimento que nos fecha a garganta, que nos dá dor de estômago e conseguir ter uma carreira sustentável?

Fórmula mágica não existe, e nem acredito que eu possa dizer aqui o que cada um deve fazer para alcançar um mundo ideal. Tenho um amigo artista, que sempre diz que se ele fosse alguém que segue conselhos que muitos gostam de dar como um passo a passo para o sucesso e tudo desse errado ele processaria esses “donos de respostas”.

Como não tenho vocação para Lair Ribeiro e não quero ser processada, vou contar um pouco de como eu acredito, e como fazemos na Aborda. E mais uma vez, não é uma verdade absoluta é apenas algumas ideias que colocamos em prática e por vezes funcionam.

Uma das formas que trabalhamos e sempre causa dúvidas nas pessoas é a nossa relação com as marcas e como fazemos para manter a integridade artística dos artistas que agenciamos e ainda sim atender ao mercado. Para isso acho importante deixar claro que empresas e instituições culturais são muito parecidas pois hoje em dia ambas atendem ao mercado, uma vez que estão atravessadas por interesses de marcas, grandes fortunas e precisam ter retorno de seus investimentos.

Então ao pensar sobre isso, sigo uma lógica muito parecida para lidar com ambos, claro que sempre lembrando que as instituições culturais dão ao artista um “lugar ao sol” nesse grande mundo da arte e marcas dão dinheiro.

Mas como pode o artista (se não for herdeiro) criar algo para ter esse lugar ao sol se não tiver dinheiro? É aí que acredito que podemos encontrar uma relação de ganha-ganha com as marcas a fim de garantir dinheiro e essa tão sonhada saúde mental.

Nosso trabalho na Aborda consiste exatamente aí: preservar as narrativas e pesquisas poéticas do artista e também entender como podemos criar uma conexão com o mercado (lembrando aqui que falo de marcas e museus). Não é uma tarefa. Mas é possível, e uma pergunta que sempre nos guia é: esse projeto/trabalho me leva aos meus objetivos a médio/longo prazo?

+editorial

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