Saracura

Diego Mouro faz uma empena na entrada do bairro do Bixiga, com referência ao quilombo que existia na região

Em 2021 o artista Diego Mouro foi convidado pelo grupo de artistas do Teatro do Incêndio, localizado na Zona Central da cidade de São Paulo, a participar do projeto Cidade Extensão da Gente. A iniciativa, que tem como objetivo valorizar o território e a comunidade que vive no bairro do Bixiga, englobou a Secretaria de Turismo de São Paulo e a produção executiva do InstaGrafite. 

Nosso artista pintou toda a lateral do imóvel, casarão histórico de 1905 tombado como patrimônio cultural e bem imaterial pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo. O mural fica na entrada do bairro, que é uma grande encruzilhada, e  retrata uma mulher negra estendendo um lençol branco com a palavra “Saracura”. Diego ressalta que antes do Bixiga ser considerado uma região tradicionalmente italiana, o bairro foi habitado por escravizados alforriados que organizaram o quilombo urbano de Saracura.

-Fiz essas descobertas durante o processo de pesquisa para a construção da empena. Isso traz o sentido do porquê hoje o bairro é reconhecido pelo samba e a Capoeira. Todos esses atravessamentos culturais ocorrem por causa deste processo de aquilombamento, de manutenção de culturas pretas. Por isso, nesta obra eu quis falar mais dessa raiz histórica anterior à chegada da comunidade europeia. Nos dias de hoje, o local passa por um novo processo de enegrecimento com a vinda de imigrantes do norte e nordeste do Brasil, uma população majoritariamente preta

Rascunho da obra.
Produção da empena. Diego teve como auxiliares os pintores Glaucio e Pedro Becker.

Mouro conta que teve como referência uma cena que viu a primeira vez que visitou o Bixiga, uma mulher negra estendendo roupas. Segundo ele, o varal é um símbolo que remete ao afeto cuidado, que o lembra da família e das lavadeiras.  O artista paulista lembra que as pensões são muito comuns na região, o que mostra essa formação comunitária e aquilombamento, ligado à ancestralidade negra e a resistência.

Diego destaca a importância de ter um trabalho junto a Secretaria Municipal de Turismo. Para ele, é importante que os órgãos do Estado reconheçam as tradições pretas como lugares válidos de cultura. 

-No Brasil, temos o  costume de nacionalizar práticas que vieram de pessoas negras e assim inviabilizar seus criadores. Sempre que o governo valida isso, sinto que estamos dando nome aos produtores dessas culturas. 

Gabriela Morato, artista que faz parte do grupo teatral do Teatro do Incêndio, fala que o propósito do projeto é transformar a região e de dar acesso ao direito à cidade. Segundo ela, existem outras atividades que serão realizadas, como a restauração da fachada, cuidados com  calçada  e políticas de descarte correto de lixo. 

-Nós gostamos muito de conhecer o trabalho do Diego e achamos que ele dialoga diretamente com a nossa proposta. A arte que ele desenvolveu tem relevância para a história do Bixiga.  

Foto: Pedro Ricci

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