“O lambe-lambe sempre me levou para a fronteira.” É com essa frase que o artista Alberto Pereira, representado pela Aborda, reflete sobre seu mais recente trabalho: uma intervenção artística no muro que divide México e Estados Unidos. A obra de 20 metros quadrados, planejada e executada ao longo de cinco dias, retrata Quetzacóatl, a serpente emplumada da mitologia mesoamericana, uma figura simbólica de transgressão e transformação.
A intervenção foi realizada com o apoio da Casa de Luz, um abrigo que acolhe refugiados LGBTQIA+ em Tijuana, uma cidade marcada pela constante presença de migrantes que tentam atravessar a fronteira em busca de uma vida melhor. Para Pereira, essa conexão entre o local e a obra reforça a importância de dar voz a quem é frequentemente silenciado por barreiras sociais, políticas e geográficas. “Dentre suas muitas simbologias, Quetzacóatl fala sobre a criação e a transgressão de fronteiras”, afirma o artista, que viu na figura mitológica uma oportunidade de reimaginar o próprio conceito de fronteira – não como uma barreira intransponível, mas como um espaço permeável, aberto à ressignificação.
A ideia do projeto nasceu durante um encontro internacional promovido pelo Stanley Center for Peace and Security, em parceria com o Kroc Institute da Universidade de San Diego e a CRIES (Coordenadora Regional de Investigaciones Económicas y Sociales). O evento reuniu mais de 30 especialistas de diversas partes do mundo, e tinha como objetivo discutir os impactos da violência urbana em diferentes contextos globais. Foi nesse ambiente de diálogo e troca que Pereira encontrou Irving Mondragón, ativista que desde 2020 dirige a Casa de Luz. Mondragón, que há tempos desejava realizar uma intervenção artística no muro, ainda não sabia como dar forma à ideia. O encontro entre os dois fez com que as peças se encaixassem: Pereira trouxe a técnica, Mondragón o contexto.
O lambe-lambe de Quetzacóatl, aplicado sobre o muro que historicamente separa dois mundos, carrega o peso da mitologia mesoamericana e o simbolismo contemporâneo de luta e resistência. A figura da serpente emplumada, que transita entre o céu e a terra, ecoa as esperanças de quem vive nas margens da sociedade e busca uma nova narrativa. Assim como o próprio lambe-lambe, o muro entre México e Estados Unidos não é um símbolo fixo. Ao longo do tempo, ele se torna um espaço transitório, palco para novas histórias — de resistência, migração e identidade. A obra de Pereira insere-se nesse contexto, como uma lembrança de que as fronteiras, por mais sólidas que pareçam, são sempre atravessáveis. A arte, aqui, não resolve, mas abre espaço para novas possibilidades e provocações. Ao colar Quetzacóatl, o artista não oferece uma solução definitiva; mas questiona: o que cabe, de fato, na fronteira?
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