No Festival Ibanasca, realizado em Honda, na Colômbia, a artista Priscila Barbosa, representada pela Aborda, abordou as complexidades das discussões sobre saúde reprodutiva e direitos das mulheres por meio do mural “Las abuelas también lo hicieron” (“As avós também fizeram”). A obra propõe uma análise intergeracional, conectando memória, práticas culturais e debates sobre autonomia corporal.
Criado em colaboração com as iniciativas Como Abortar e Ayuda para Abortar, o mural de Barbosa se insere em um contexto político e social marcado pelo estigma e pela desigualdade de acesso ao aborto em grande parte da América Latina. A artista escolhe retratar uma mulher idosa no ato de costurar – uma cena à primeira vista corriqueira, mas que carrega significados que convidam à reflexão. A costura, tradicionalmente associada ao trabalho doméstico e à feminilidade, pode ser lida como uma metáfora para a perpetuação de práticas e saberes que, ao longo da história, foram silenciados. “É fundamental olhar para as gerações anteriores quando tratamos do aborto e compreender a responsabilidade que temos ao trazer à tona, com naturalidade, um tema historicamente tão sensível”, reflete Barbosa.
A escolha da figura central – uma mulher idosa, tradicionalmente associada a imagens de cuidado e domesticidade – reforça a carga simbólica do trabalho. O ofício da costura, ainda que frequentemente banalizado, alude às dinâmicas de gênero historicamente impostas às mulheres. Nesse sentido, a obra questiona o arquétipo da avó enquanto símbolo de feminilidade passiva e sublinha sua atuação em esferas que ultrapassam o âmbito familiar.
A curadora Aline Moraes observa que o título do mural, “Las abuelas también lo hicieron”, provoca reflexões sobre os papéis femininos no contexto das discussões reprodutivas. “A obra revela que o aborto não é exclusivo de pessoas que não desejam ter filhos de forma permanente, mas sim uma questão de decidir o momento certo para tê-los. Ela desconstrói a ideia da avó como figura exclusivamente reprodutora ou guardiã de tradições familiares e coloca em evidência como muitas escolhas relacionadas à maternidade são influenciadas por valores dominantes e, em alguns casos, pela falta de opções, especialmente em contextos onde o aborto é ilegal”, analisa Moraes.
Na América Latina, onde o aborto ainda é amplamente proibido ou restrito, a mensagem da obra adquire uma dimensão particularmente contundente. Barbosa também dialoga com o símbolo do lenço verde, amplamente reconhecido nos movimentos pró-aborto, reforçando o papel da luta coletiva e intergeracional na defesa do direito à autonomia corporal. “Mulheres, meninas e pessoas que gestam seguem tendo que viver sob o olhar de julgamento alheio e correndo risco de morte por não terem acesso a um procedimento seguro”, enfatiza a artista.
Reconhecido por revitalizar espaços públicos e fomentar diálogos entre culturas, o Festival Ibanasca conecta produções artísticas a pautas sensíveis às realidades locais. Nesse contexto, o mural de Priscila Barbosa encontra ressonância com iniciativas como Como Abortar e Ayuda para Abortar, que atuam em defesa da saúde reprodutiva e da autonomia sobre o corpo, especialmente em territórios marcados por legislações restritivas e tabus culturais.
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Sobre a Aborda
A Aborda é uma plataforma inovadora dedicada à arte e cultura contemporâneas na América Latina. Nosso foco principal é a representação de artistas visuais, conectando-os ao mercado por meio de projetos artísticos que englobam fins culturais, educacionais e comerciais. Para falar sobre projetos ou adquirir obras de artistas representados, entre em contato por aqui.
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