Luna Bastos é artista e psicóloga, formada pela Universidade Estadual do Piauí (UESPI). Seu estudo acadêmico se funde a sua trajetória na arte, o que possibilita que ela desenvolva diversos conceitos que estruturam a narrativa de suas obras. Em 2021, Bastos começou a produzir máscaras de madeira e esculturas. Para Luna, as obras são como uma segunda pele, como uma fronteira que ela estabelece entre o mundo interior e exterior, demarcando a distância entre o que sente e o que deseja comunicar.
Nossa artista se interessa por Psicoterapia Corporal, a relação entre o corpo e mente, e também com os efeitos psicológicos deixados pelo racismo na subjetividade negra. Luna Bastos também é tatuadora e conecta a criação das esculturas com as tatuagens, visto que ambas se tornam visíveis a partir das emoções profundas que encontram caminho para se manifestar na superfície.
A artista tem influências em teóricos como Frantz Fanon, Grada Kilomba e Neusa Santos Souza, que em suas produções se debruçam sobre a relação entre o racismo e a psicologia.
Através do livro “Pele Negra, Máscaras Brancas”, de Fanon, Luna Bastos reflete sobre o duplo espaço ocupado por pessoas negras: o lugar de vítima e o de ameaça. Vítima, pois o racismo aniquila as possibilidades de existência dos corpos racializados nessa sociedade e reduz a subjetividade negra de acordo com a violenta ótica da branquitude. Nesse cenário, pessoas pretas ocupam o papel de sujeito passivo da dinâmica social, pois o racismo faz com que essas existências sofram com o processo de desumanização.
Já no lugar de ameaça, o corpo negro exerce a função de sujeito ativo. Ele é visto como violento, ameaçador e hostil, portanto é esperado que a violência parta desse lado. Esse aspecto é tão desumanizador quanto o primeiro, pois enquanto a relação de sujeito passivo danifica o psicológico por meio das sequelas provenientes das dinâmicas; a relação de sujeito ativo espera um comportamento ameaçador vindo de pessoas negras.
Grada Kilomba, em “Memórias da Plantação” aborda a constelação triangular do racismo; conceito desenvolvido por meio do diálogo entre Freud e as análises de Frantz Fanon. Essa estrutura detalha as três funções que tornam a violência racial possível. As esculturas de Luna refletem sobre essas dinâmicas e a posição ocupada pelos indivíduos pretos, que são colocados no lugar duplo (vítima-agressor).
Nas obras, também há o chamado para transgredir essas imposições frutas da colonialidade. As esculturas foram feitas em madeira e por meio da lapidação, Luna Bastou usou a raiva como instrumento de trabalho. A força empregada para a execução desse trabalho veio das reflexões sobre o racismo. No livro Irmã Outsider, Audre Lorde afirma que a raiva é uma das respostas de mulheres a atitudes racistas. Nessa série sobre as dinâmicas dos corpos negros, a raiva está presente enquanto combustível.
O outra referência importante para a pesquisa de Luna é o rapper carioca Leall. Na música “Posso Mudar o Meu Destino”, o artista traz a premissa da transgressão ao renunciar as imposições dadas a figura do jovem negro brasileiro. O rapper afirma que é possível mudar o próprio destino, subvertendo o lugar de ameaça e vítima e imaginando uma realidade em que as imposições raciais estejam superadas. As palavras foram inseridas nas esculturas por meio de pregos.
O processo de esculpir parte da retirada de uma forma existente na mente do artista de um pedaço de madeira. Ao mesmo tempo em que essa dinâmica é estabelecida de forma física, no figurativo também há o processo de retirar da raiva uma obra de arte. A lapidação é um processo amplo que exige força mental, física e também espiritual.
As esculturas de Luna Bastos já estiveram expostas no ArtRio 2022, através do Artistas Latinas, na Expo Reciclos e na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, no Rio de Janeiro.
Texto: Bárbara Alves e Gabriela Azevedo
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