Este mês, Wɨra Tini, artista e muralista representada pela Aborda, esteve em Paris a convite do Naga Creativo para a abertura da exposição “Dignité en Terres Sacrées”, na Galeria Artivista. A coletiva reúne artistas brasileiros das cenas urbana e contemporânea em torno da valorização dos povos indígenas e da preservação de seus territórios. Estruturada em três eixos – Héritage, que celebra a cultura e as tradições indígenas; Défis et Résistance, que evidencia os desafios e lutas enfrentados por esses povos; e Un Avenir Ensemble, que lança um olhar para um futuro baseado no respeito e na solidariedade –, a mostra propõe uma reflexão sobre memória, identidade e resistência.
Natural de Manaus e descendente do povo Kokama, Wɨra Tini tem consolidado sua pesquisa artística em torno da cosmovisão indígena e sua interseção com a vida urbana contemporânea. Suas obras tensionam narrativas sobre identidade, pertencimento e os desafios enfrentados por povos indígenas no Brasil, tanto nas aldeias quanto nos centros urbanos. Para a exposição em Paris, a artista apresentou as telas Yacuruna, Mascarados, Karuaras e Barraca de guaraná, todas em acrílica, além da fine art Uni Tsukuri. Suas obras exploram elementos mitológicos, como as figuras da Karuara e do Yacuruna – entidades associadas à proteção das águas e ao equilíbrio ecológico –, e a experiência nortista, refletida em Barraca de Guaraná.
A paleta de cores utilizada por Wɨra, marcada por contrastes entre tons quentes e frios, evoca a vivacidade do clima equatorial e a tensão entre forças ancestrais e contemporâneas. Além da pintura, sua prática incorpora elementos têxteis, como bordados com fibras e sementes, materiais de uso tradicional pelos povos indígenas.
Levar essa produção ao circuito internacional significa não apenas expandir a visibilidade da arte indígena contemporânea, mas também tensionar os modos como essa produção é historicamente enquadrada no imaginário europeu. Ao apresentar sua obra em um espaço que por séculos consolidou discursos sobre o Sul Global a partir de uma ótica colonial, Wɨra Tini subverte essa lógica, inserindo-se como agente ativo da narrativa e reivindicando um lugar para as vozes indígenas dentro da cena artística global. “A luta internacional dos povos indígenas segue na defesa de seus direitos e territórios. Existe uma aliança global nessa resistência, e a arte se torna uma forma – sutil ou incisiva – de reivindicar esses direitos, seja na preservação cultural, na proteção territorial, na crítica ou na denúncia”, afirma a artista.
Ao refletir sobre os olhares externos dirigidos à Amazônia, Wɨra traz a memória do livro A Invenção da Amazônia, de Neide Gondim, para questionar as construções narrativas sobre a região: “Hoje não é muito diferente do que pensavam os intelectuais europeus do passado. Ainda há uma ilusão e um preconceito sobre a arte e o povo da Amazônia, fruto de uma visão construída ao longo dos séculos. Mesmo sem intenção maldosa, esse imaginário persiste e influencia as percepções atuais”. Para a artista, ocupar esses espaços e dialogar com outras perspectivas é essencial: “O que fica é que devemos estar mais presentes em outros continentes, falando sobre a Amazônia com nossa arte e suas múltiplas linguagens de vida”.
Sobre a Aborda
A Aborda é uma plataforma inovadora dedicada à arte e cultura contemporâneas na América Latina. Nosso foco principal é a representação de artistas visuais, conectando-os ao mercado por meio de projetos artísticos que englobam fins culturais, educacionais e comerciais. Para falar sobre projetos ou adquirir obras de artistas representados, entre em contato por aqui.
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