Em julho deste ano, a artista Luna Bastos, representada pela Aborda, foi convidada para criar dois murais no Sesc São José dos Campos, durante o Festival de Aprender – FestA!. Inspirados pela temática “O futuro é ancestral”, os murais “Ancestralizando Futuros” e “Ancestralizando Futuros II” refletem a essência da ancestralidade africana em diálogo com perspectivas contemporâneas sobre identidade e memória.

O tema do festival foi inspirado pelo texto de Katiúcia Ribeiro para o Le Monde Diplomatique Brasil, de novembro de 2020, e pela obra homônima de Ailton Krenak, publicada em 2022. Ribeiro destaca que “Ancestralidade é mais que uma reflexão, ancestralidade é um princípio filosófico que rompe os muros da academia e chega até a cadeira de sua avó ou de seu avô como voz de sabedoria que conta através de suas oralituras.”

Bastos utiliza predominantemente o tom verde-água, simbolizando o oceano e a água, elementos recorrentes em sua obra que representam a sabedoria ancestral e a transformação energética. Nos murais, ela incorpora outros elementos e destaca mulheres negras como protagonistas e portadoras dessa sabedoria ancestral. Esses componentes transcendem a materialidade superficial e oferecem novas perspectivas sobre a ancestralidade. Os Adinkras, símbolos tradicionais africanos, reforçam a conexão entre passado, presente e futuro.

No texto de Ribeiro, a ancestralidade é apresentada como uma ferramenta vital para a resistência e recuperação da identidade em meio às violências coloniais. Ela escreve: “O corpo em contato com outros corpos recupera sua territorialidade, estabelecendo conexões capazes de diálogos com outros corpos que imbricam histórias diferentes, fortalecem e reconstituem a memória.” Através de sua arte, Luna Bastos constrói uma imagética rica em símbolos ancestrais, ressignificando elementos apagados pela colonização e propondo novas visões e concepções que contribuem para processos de resistência e ressignificação.