A obra “Saiba Menos” de Alberto Pereira emerge como uma análise crítica e provocativa sobre a saturação informacional que caracteriza nossa época. Através de uma entrevista com Aline Moraes, curadora da Aborda, Alberto explora a dualidade entre o mundo virtual e o físico, e examina o papel da arte como mediadora dessa experiência. A conversa aborda a relação do indivíduo com a cidade, o desafio de se desconectar em uma sociedade hiperconectada, e a influência de elementos cyberpunk em sua obra.
Aline Moraes: Parte de seus trabalhos se relaciona com um certo “experienciar a cidade”. Como você vê que seu trabalho “Saiba Menos” se relaciona com isso?
Alberto Pereira: Eu vejo que habitamos duas cidades: a virtual, do celular, e a física, do dia a dia. Muitas vezes, parece que passamos mais tempo na cidade virtual. “Saiba Menos” busca justamente essa desconexão, um convite para olhar ao redor e realmente experienciar o ambiente físico. Quando coloco um adesivo em uma placa e alguém nota, isso significa que essa pessoa se desprendeu um pouco da outra realidade para viver o que está vendo ali.
Aline Moraes: Vivemos numa sociedade hiperconectada. Você acha que “saber menos” tem a ver com se desconectar? Ou selecionar melhor o que dar atenção? Como você vê isso?
Alberto Pereira: Acho que “saber menos” é tanto sobre se desconectar quanto sobre selecionar melhor nossas conexões diárias. É essencial ter momentos de total desconexão, mas também é importante filtrar nosso tempo online. Há sempre um link para se aprofundar em algum assunto, uma matéria urgente, e sentimos que precisamos opinar sobre tudo. Meu trabalho não busca dar respostas, mas sim gerar reflexões. Ele caminha entre a desconexão e a gestão do tempo conectado.
Aline Moraes: Parte de seus trabalhos, especialmente a pesquisa “Estudos Sobre o Mundo Invertido”, flerta com uma perspectiva cyberpunk. Com a progressão da virtualidade e dos algoritmos, a barreira entre a realidade e o universo virtual cada vez mais desaparece. Como você vê a arte como ferramenta frente a essa imprecisão? E a rua quando você se apropria dela para compor seu trabalho?
Alberto Pereira: Nunca tinha pensado nessa relação do trabalho com a perspectiva cyberpunk. Refletindo sobre isso, consigo ver uma conexão. O lambe-lambe, a cultura de zine e de adesivo tem raízes na cultura punk, no faça-você-mesmo. Minha série “Estudos Sobre o Mundo Invertido” é uma reflexão sobre como esses elementos do mundo online, do fanatismo aos valores invertidos e o consumo tecnológico, nos atravessam. Talvez a confusão em minha resposta reflita exatamente isso: o excesso de informações e estímulos. As imagens desta série mostram um excesso de elementos, uma vertigem crítica. A ligação com a rua é intrínseca, meu trabalho começa na rua e se conecta à rede, e vice-versa. Se isso for visto como cyberpunk, então é apenas uma maneira de expressar minhas reflexões sobre esses temas que me incomodam.
A entrevista foi gravada em vídeo e está disponível no Instagram da Aborda. Para assistir, clique aqui.
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