Por: Carolina Herszenhut
O meu trabalho consiste em criar e pensar carreiras sustentáveis para artistas, e umas das coisas que tenho construído é uma “nova jornada para arte” a partir de algo que eu chamo de “arte vendável”.
Bourdieu* no seu conceito de “campo”, apresenta os responsáveis e agentes desse campo, suas atuações e suas trocas simbólicas, e é a partir desses conceitos que Sarah Thornton vai em seu livro “sete dias no mundo da arte” construir uma “jornada da arte”.
Jornada essa que está estabelecida dentro do campo com trocas e papéis absolutamente bem definidos, uma vez que ela apresenta como críticos, galerias, museus, leiloeiros, revistas de arte, prêmios, bienais, feiras, escolas de arte e curadores atuam e se organizam.
Criar e pensar carreiras sustentáveis para artistas, é umas das coisas que tenho construído numa “nova jornada para arte” a partir de algo que eu chamo de “arte vendável”.
Desenvolvo um trabalho centrado em questões contemporâneas e busco entender como esse “novo campo da arte” acontece e como seus agentes se re-organizam. E há muito venho fazendo paralelos dos atuais agentes com os tradicionais e como eles se dão e agem a partir de uma sociedade tão atravessada pela cultura digital e como as mídias digitais tem papel central nessa nova jornada.
Há algumas semanas me deparei com um post no Instagram que ficou na minha cabeça, que dizia o seguinte:
“Desde quando o parâmetro para avaliar o trabalho de artistas virou essa desgraça de Instagram?”
Venho trocando com alguns artistas sobre o uso das mídias sociais como um local para troca com o público e também como plataforma de apresentação de seus trabalhos, e sei que dentro dessa nova jornada da arte, onde a venda é muito atravessada por essa atuação nas redes, a quantidade de seguidores, a forma como um artista monta o seu feed e como ele se comporta são fundamentais para o resultados do “sucesso” pois cada vez mais temos empresas interessadas em comprar e fazer parcerias, que são determinadas por quanto engajamento aquilo será capaz de gerar.
Porém ainda não tinha me aprofundado nessa discussão dos algoritmos e como os dados atuam nesse sucesso e escolhas, e ao assistir a palestra Cadê o futuro que prometeram? de Luli Radfahrer, muitas questões se colocaram para mim.
Luli faz alguns apontamentos que gostaria de destacar:
. A internet não é uma força da natureza, podemos mudá-la;
. Vivemos uma realidade mediada onde não estamos sozinhos e os dados somos nós;
. Vivemos uma tecnocracia, ou seja, uma sociedade onde a tecnologia é divina;
. Estamos numa datacracia,como ele explica, um regime baseado em dados;
Acredito que para entendermos como os algoritmos estão atuando como curadores e críticos de arte, Luli aponta que o digital não é sinônimo de tecnologia é uma forma de relacionamento, dessa forma ele é a representação do real, e por isso precisamos tirar a tecnologia centro e entender que ela é feita por uma pessoa. Como é uma pessoa que é responsável pela coleta, manutenção, propagação dessa tecnologia, de alguma forma esses algoritmos carregam uma ideologia implícita de alguém que faz essa alimentação de dados.
Tudo isso me fez pensar que para além de discutirmos se a tecnologia define a curadoria ou a crítica é preciso questionar, como ela define e como podemos ter uma visão mais plural nessa alimentação de dados, para elaboração desses algoritmos que hoje definem a arte.
Acredito que somente uma maior inserção de especialistas em arte, com mais diversidade será capaz de traduzir em dados o que de fato a arte vem fazendo e questionando nos últimos tempos.
Pois da mesma forma que diferentes filósofos nos ajudaram a definir o embate cotidiano de ideias e a nossa relação com a técnica, o que, de certa forma é um pouco o que faz um crítico ou curador de arte, precisamos ter mais diversidade e pessoas engajadas com a pautas da arte nessa “nova definição de cotidianos, técnicas e arte”.
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