Criado como um meio de difusão rápida e acessível, o lambe-lambe tem raízes na comunicação de rua do século XIX, quando cartazes eram colados para divulgar espetáculos, eventos políticos e notícias. Sua vocação popular atravessou o tempo e, no século XX, encontrou ressonância em movimentos artísticos, tornando-se ferramenta de intervenção urbana e manifestação gráfica. Hoje, enquanto transita entre a materialidade e a dissolução, entre a inscrição no espaço e sua inevitável obsolescência, o lambe-lambe amplia continuamente suas possibilidades estéticas e discursivas, incorporando novas técnicas e suportes.
Alberto Pereira, artista representado pela Aborda, não só compreende essa dinâmica, como a leva a novos territórios. Seu trabalho articula a linguagem do lambe-lambe tanto em projetos institucionais e comerciais quanto em uma investigação autoral que dialoga com os fluxos de imagem que nos atravessam diariamente. Combinando colagem digital e apropriação de símbolos, ele desloca o lambe do contexto urbano para suportes diversos, como telas, instalações e materiais gráficos. Se o lambe-lambe historicamente se impõe pela urgência e pela ocupação do espaço, Alberto potencializa essa característica, explorando seus limites formais e tensionando a fronteira entre o transitório e o permanente.
A versatilidade dessa técnica não está apenas na reprodutibilidade do papel colado na rua, mas na capacidade de absorver diferentes processos sem perder sua natureza de intervenção. Alberto se apropria dessa plasticidade para transitar entre escalas e contextos, inserindo a estética do lambe-lambe em espaços óbvios e não-óbvios. Sua prática não se limita ao suporte, mas se estende à construção de narrativas que questionam a maneira como ocupamos a cidade, consumimos imagens e atribuímos significado ao que nos cerca.
Como escreve o próprio artista:
Algo tão simples, mas tão complexo. Um pedaço de papel colado na rua que te avisa do show, te promete amor, dá força, faz rir, chorar e até refletir ao longo do dia. Pintado, feito em caneta, impresso, de colagem, em gravura, estêncil, serigrafia e com crochê também. É múltiplo, mutante, pode ser XXG e pode ser PP. Pega uma caixa de fósforo, uma caixa de luz, ou "caixas" maiores como casas ou prédios. Está no Rio e viaja para Recife, Londres, Genebra, Montevidéu, Berlim, Cairo. É escalável e vai além das leis da física, porque pode ocupar centenas de lugares ao mesmo tempo. E mesmo assim é único, porque carrega a própria história, conceito, contexto social, político e estético de quem o fez, mesmo quando ganha morada em um novo muro a quilômetros de distância. Quanto mais lambes colados, mais paredes aparecem. Quanto mais nos damos, mais recebemos. Quanto mais presente, mais futuro.
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