A instalação “Domingas”, do artista Alberto Pereira, ocupa 21 metros quadrados da Calçada da Fama, em Teresópolis, transformando o espaço público em um local de reflexão sobre o descanso, a memória e a ressignificação histórica. A obra integra a exposição “Memórias Habitadas”, parte do Festival Sesc de Inverno, e propõe uma interação direta com o cotidiano dos pedestres que circulam pela movimentada via comercial.

Pereira, artista carioca representado pela Aborda, é conhecido por sua habilidade em utilizar o espaço urbano para questionar e subverter narrativas consolidadas. Em “Domingas”, ele recorre à técnica do lambe-lambe para compor uma cena em que duas mulheres negras, sentadas em um barco, ocupam simbolicamente o chão da rua. A escolha do espaço e da técnica não é acidental; ao contrário, reflete o interesse do artista em deslocar o olhar do público, convidando-o a reconsiderar tanto o que se vê quanto o lugar onde se vê.

O trabalho, que dialoga com o conceito de memória, propõe uma nova leitura de arquivos históricos e questiona o descanso como um direito muitas vezes inacessível. Pereira se inspirou em uma frase do poema de Miró da Muribeca: “As pessoas estão passando para mais uma segunda-feira / eu sentado no banco da praça ainda sou domingo”. A obra reflete essa dicotomia entre movimento e repouso, e destaca como o descanso, embora essencial, não é uma realidade equitativa.

Com curadoria de Barbara Copque, Letícia Puri e Roberta Mathias, a exposição “Memórias Habitadas” convida à exploração dos limites entre o passado e o presente, entre o espaço privado e o público. Em Teresópolis, a arte de Alberto Pereira se integra ao ritmo da cidade. A instalação “Domingas” permanecerá no local até sua deterioração natural, servindo como um lembrete de que a arte e a memória estão em permanente diálogo com o tempo e o espaço.