Por: Carolina Herszenhut
O especialista Eduardo Cardoso é meu convidado para explicar esse assunto. Vamos ao texto…
Imagine um futuro próximo. Um colecionador acorda e seu celular avisa que uma de suas peças foi vendida pelo preço colocado. Boas, notícias. Mas as coisas não terminam por ai. Depois de tomar seu café, ele se senta na frente do seu computador e acessa um painel com todos os seus investimentos, inclusive obras de arte. Obras de Arte? Sim, e todas cotadas em tempo real. Muitas vezes até servindo como garantia para outras operações financeiras. Mas isso ainda vai acontecer? Não, isso já está acontecendo em Bolsas de arte espalhadas pelo mundo todo.
Sejam elas virtuais ou mesmo físicas todas essas obras se inserem nesse painel através de um formato chamado NFT (ativo não fungível). Mas como isso pode acontecer? O NFTs não são apenas arquivos digitais?
Não apenas. NFTs são registros permanentes e imutáveis. Realizados em blockchain. A mesma tecnologia usada pelo Bitcoin.
Mas quem registra esses NFTs? De onde eles surgem?
Os próprios artistas ou seus representantes. Esse registro garante sua origem. Esses NFTs são por natureza rastreáveis e ao longo do tempo vão traçar um perfil bem completo sobre a propriedade e documentos relativos à própria obra.
Quem foram seus proprietários, quais os valores que foram alcançados a cada comercialização e quais ofertas essa obra vem recebendo de outros colecionadores. Outras informações também podem ser agregadas nesses registros, como royalties para o artista a cada venda e também outros arquivos, como um filme making off, por exemplo.
Mas o que são realmente os NFTs? Muitas vezes a obra é o próprio NFT. Seja ele único ou múltiplo. No caso das obras físicas, o NFT será imprescindível para a venda. Sem ele, quem garante a procedência da obra oferecida? Um pedaço de papel carimbado? Certamente isso vai acabar. Tornando praticamente impossível a vida dos falsificadores, pois não será possível reproduzir um registro não oficial. Da mesma forma como não é possível falsificar um Bitcoin.
Esse aspecto abre uma série de oportunidades. Uma verdadeira corrida do ouro para os NFTs nos próximos anos. Artistas vivos vão passar a produzir obras totalmente digitais nesse formato. Ao mesmo tempo que vão catalogar seus acervos físicos para posteridade substituindo os mofados certificados de autenticidade pelos registros em blockchain.
Instituições como Museus e Acervos Culturais demandarão grandes projetos de catalogação em NFTs também. Tudo isso envolverá produtores culturais, especialistas em certificação de documentos e obras, avaliadores, desenvolvedores de sistemas, além de outros profissionais qualificados.
Mas como começou tudo isso? De modo muito inocente. Com um jogo experimental chamado Cryptokitties. O sucesso foi tão grande que rapidamente congestionou a rede Ethereum, que teve de ser readequar ao tráfego gerado pelo cruzamento de gatinhos mutantes. Sim, o jogo é sobre isso. Dar match em gatos bem estranhos. Mas essa brincadeira rapidamente tomou forma de especulação e hoje temos Cryptokitties alcançando valores de centenas de milhares de dólares.
Recentemente Crossroads (foto), um NFT produzido pelo artista Beeple foi vendido por mais de seis milhões de dólares. O ativo consiste numa animação “comemorativa” da derrocada de Trump. Esse caso ilustra bem a verdadeira revolução que os NFTs vão promover nos próximos anos. E esse alto valor atribuído à uma obra de arte formatada como NFT é apenas o cume de um imenso iceberg.
Os NFTs são ativos muito flexíveis. Servem para representar e mesmo ser muitas coisa. Desde obras de arte até o capital fracionário de uma empresa ou um fundo de investimento. Os casos de uso são muito amplos. E ainda estão sendo todos os dias descobertas novas aplicações.
Seriam então os NFTs o motor de uma revolução que vai engolir rapidamente todo o sistema financeiro? Eu diria que sim. E com muita certeza disso. Como o Bitcoin, não há como parar essa tecnologia. E nesse exato momento há pessoas no mundo inteiro (incluindo eu mesmo) tocando projetos incríveis com esse novo ferramental.
Em dez anos o mercado será totalmente diferente. Para a arte e para as finanças. Talvez não exista num futuro próximo qualquer distinção entre um e outro. E instituições sólidas que não entenderam tudo isso terão fatalmente fracassado.
Esse texto estréia uma séries sobre o mercado da arte com pessoas convidadas especialistas em diversas áreas. Esse sobre NFTs é do Eduardo Cardoso.
Eduardo Cardoso é diretor da Pointillé Comunicação, e possui vasta experiência e projetos premiados. Especialista em criação, planejamento de produto, identidade de marca, tecnologia e mídia, entre outros assuntos relacionados à inovação aplicada nos universos de Branding, Design, Publicidade e Comunicação. Recentemente, junto com a artista Juliana Cabeza, iniciou as operações da Cartel Construções, coletivo artístico carioca que explora as fronteiras entre arte, produtos de massa e tecnologia.
Também atua como Embaixador nas blockchains Polkadot, Kusama e Acala, onde estão sendo desenvolvidas soluções de grande escala e baixo custo para todos esses novos protocolos, incluindo os NFTs.
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